O fenômeno da shippagem na nomeação de casais: um novo emprego do cruzamento vocabular
DOI:
https://doi.org/10.21165/gel.v18i3.3097Palavras-chave:
Morfologia. Formação de palavras.Resumo
Neste artigo, descrevemos o fenômeno da shippagem (prática que consiste em nomear relações afetivas de personagens, casais ou amigos), utilizando, na representação dos dados, os instrumentos da Morfologia Prosódica (MCCARTHY, 1986). Tomamos por base contribuições existentes sobre o cruzamento vocabular em português (BASILIO, 2005; ANDRADE, 2013), a fim de verificar se a tipologia proposta para nomes comuns também se aplica a antropônimos shippados: (a) interposição ou entranhamento lexical; (b) combinação truncada e (c) reanálise ou substituição sublexical. Nosso corpus é constituído de 212 dados. Com exceção de 10 dados coletados de fala espontânea, todos os demais foram retirados da internet. A maioria dos ships coletados remete a programas de televisão ou a plataformas on-line de filmes, séries (como as da Netflix) e novelas. As principais fontes são os sites que falam sobre personagens e atores dessas narrativas, como revistas, jornais, fanfics, blogs diversos, além das redes sociais Twitter, Facebook e Instagram. Nesta descrição, pretendemos mostrar que nem sempre são muito claras as fronteiras entre os chamados processos não concatenativos, uma vez que ships parecem estar a meio caminho entre o cruzamento, de um lado, e a siglagem e a hipocorização de nomes compostos, de outro.
Downloads
Referências
ABREU, K. N. M. de. Um caso de morfologia improdutiva no português do Brasil: a formação de siglas e de acrônimos. 2004. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2004.
ALGEO, J. “Blends, a structure and sistematic view”. American Speech, v. 52, p. 47-64, 1977.
ALVES, I. M. Neologismo: criação lexical. São Paulo: Ática, 1989.
ARAÚJO, G. A. Morfologia não-concatenativa em português: os portmanteaux. Caderno de Estudos linguísticos, Campinas, v. 39, p. 5-21, 1990.
ASSUNCAO, F. P.; GONÇALVES, C. A. V. Cruzamentos vocabulares em nível discursivo/textual: efeitos expressivos e padrões estruturais na coluna de Agamenon Mendes Pedreira. Signum, Estudos de Linguagem, v. 11, p. 111-130, 2008.
ANDRADE, K. E. Uma análise otimalista unificada para mesclas lexicais do Português do Brasil. 2008. Dissertação (Mestrado em Letras Vernáculas) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008.
ANDRADE, K. E. Proposta de continuum composição-derivação para o português do Brasil. 2013. Tese (Doutorado em Letras Vernáculas) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.
BASILIO, M. Teoria Lexical. São Paulo: Ática, 1987.
BASILIO, M. M. de P. A fusão vocabular como processo de formação de palavras. Anais IV Congresso Internacional da ABRALIN, Salvador: UFBA, p. 545-555, 2005.
BECKMAN, J. N. Positional faithfulness. 1998. Dissertação (Doutorado em Filosofia) – Graduate School of theUniversity of Massachussetts, Amherst, 1998.
BENFICA da SILVA, V. O cruzamento vocabular formado por antropônimos: análise morfológica e fonológica. Dissertação de Mestrado. – Rio de Janeiro, UFRJ, 2019.
CARVALHO, J. J. de. A formação de palavras na língua portuguesa: um estudo da fusão vocabular na obra de Mia Couto. 2008. Dissertação (Mestrado em Letras) – Pontifícia Universidade Católica, Rio de Janeiro, 2008.
DOW, L. A corpus study of phonological factors in novel English blends. Lexis, v. 45, n. 3, p. 111-123, 2018.
GIROLAMO, C. The Fandom PairingName Blends and the Phonology-Orthography Interface. Names, v. 60, n. 4, p. 231-243, 2019. DOI: 10.1179 / 0027773812Z.00000000034.
GONÇALVES, C. A. V. Uma análise compreensiva do cruzamento lexical em português. Campinas: Pontes (no prelo)
GONÇALVES, C. A. V. Uma análise construcional das (de)formações lexicais com os nomes do atual chefe do executivo. Gragoatá (UFF), v. 25, n. 52, p. 648-687, 2020.
GONÇALVES, C. A. V. Morfologia. São Paulo: Parábola, 2019a.
GONÇALVES, C. A. V. A crença nas palavras: (des)construções lexicais em antropônimos de líderes religiosos. Estudos Linguísticos (SÃO PAULO. 1978), v. 48, p. 899-918, 2019b.
GONÇALVES, C. A. V. Atuais tendências em formação de palavras. São Paulo: Contexto, 2016.
GONÇALVES, C. A. V. A ambimorfemia de cruzamentos vocabulares em português: uma abordagem por ranking de restrições. Revista da ABRALIN, v. 5, p. 169-184, 2006.
GONÇALVES, C. A. V. Processos morfológicos não-concatenativos: formato prosódico e latitude funcional. Alfa (ILCSE/UNESP), Araraquara, v. 48, n. 2, p. 30-66, 2004.
GONÇALVES, C. A. V. Blends lexicais em português: não-concatenatividade e correspondência. Veredas (UFJF), Juiz de Fora, v. 14, n. 1, p. 16-35, 2003.
GONÇALVES, C. A. V.; CARVALHO, W.; ANDRADE, K. Splinters são cruzamentos de cruzamentos? Repensando o estatuto desse constituinte em português. Revista do GEL, São Paulo, v. 13, n. 1, p. 132-156, 2016.
GONÇALVES, C. A.; ANDRADE, K. E.; ALMEIDA, M. L. L. Se a macumba é para o bem, então é boacumba: análise morfoprosódica e semântico-cognitiva das substituições sublexicais em português. Revista Lingüística, Revista do Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal do Rio de Janeiro, v. 6, n.2, p. 47-62, dez. 2010.
GONÇALVES, C. A. V.; SALGADO, V. C. Sobre o efeito da restrição morfológica Morphdis nos cruzamentos vocabulares em português. In: IV Congresso Internacional da ABRALIN. Brasília. Anais do IV Congresso Internacional da ABRALIN. Brasília: UnB, v. 1. p. 195-202, 2006.
LEHRER, A. “Blendalicious”. In: MUNAT, J. (ed.). Lexical Creativity, Texts and Contexts, Amsterdam/Philadelphia: Benjamins, 2007. p.115-133.
LIMA, B. C. A formação de 'Dedé' e 'Malu': uma análise otimalista de dois padrões de Hipocorização. 2008. Dissertação (Mestrado em Letras Vernáculas) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008.
McCARTHY, J. A prosodic theory of nonconcatenative morphology. LinguisticInquiry, v. 12, n. 3, p. 373-417, 1986.
PIÑEROS, C. E. The creation of portmanteaus in the extra grammatical morphology of spanish. Iowa: University of Iowa, 2002.
RENNER, V.; MANIEZ, F.; ARNAUD, P. J .L. Cross-Disciplinary Perspectives on Lexical Blending. Berlin/Boston: De Gruyter, 2012.
RIO-TORTO, G. M. Blending, cruzamento ou fusão lexical em português: padrões estruturais e (dis)semelhanças com a composição. Filologia e lingüística portuguesa, São Paulo, v. 16, n. 1, p. 7-29, jan./jun. 2014.
LIEBER, R. English Word-Formation Processes. In: ŠTEKAUER, P.; LIEBER, Handbook of Word-Formation. Cambridge: Cambridge University Press, 2005. p. 429-448.
RONNEBERGER-SIBOLD, E. Tuning Morpho-Semantic Transparency by Shortening. In: LÜTSCHUZKY, H.; RAINER, F. (ed.). Proceedings of the 15th International Morphology Meeting. Amsterdam / Philadelphia: John Benjamins, 2013. p. 206-225.
SANDMANN, A. J. Morfologia geral. São Paulo: Contexto, 1989.
SANDMANN, A. J. Formação de palavras no português brasileiro contemporâneo. Curitiba: Scientia et Labor, 1985.
SÂNDALO, M. F. Morfologia. In: MUSSALIN, F.; BENTES, A. C. (ed.). Introdução à lingüística. São Paulo: Cortez, 2001.
SOLEDADE, J. Origens e estruturação histórica do léxico antroponímico do português brasileiro. Macabéa – Revista Eletrônica do Netlli, v.8, n.2, p. 411-452, jul./dez. 2019.
http://wp.clicrbs.com.br/holofote
https://capricho.abril.com.br/vida-real/nem-ai-13-casais-que-vamos-shippar-hoje-amanha-e-sempre
https://tvefamosos.uol.com.br/blog/mauriciostycer
https://www.facebook.com/buscape/videos/10155986654657182/?comment_id=10155988429632182¬if_id=1528817271193995¬if_t=comment_mention&ref=notif. Acesso em: 10 jun. 2018.
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1226314154152601&set=a.498914796892544.1073741830.100003220844119&type=3&theater. Acesso em: 10 nov. 2017.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2021 Revista do GEL
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
Esta revista oferece acesso livre imediato ao seu conteúdo, seguindo o princípio de que disponibilizar gratuitamente o conhecimento científico ao público proporciona maior democratização mundial do conhecimento.
A REVISTA DO GEL não cobra taxa de submissão ou de editoração de artigos (articles processing charges – APC).
Os critérios gerais de direitos autorais da REVISTA DO GEL estão dispostos no termo de direitos autorais que cada autor aceita ao submeter seu trabalho no periódico. Como regra geral o periódico utiliza as regras CC BY-NC da Creative Commons (regra disponível em: https://creativecommons.org/licenses/by-nc/4.0/legalcode)