Português Guineense e Português Europeu: um estudo preliminar sobre a percepção das suas diferenças entoacionais
DOI:
https://doi.org/10.21165/gel.v18i3.3164Palavras-chave:
Entoação, Percepção, variedades de português, Português falado na Guiné-Bissau, Português EuropeuResumo
A Guiné-Bissau é um país multiétnico e multilíngue em que o português é a língua oficial, embora não seja língua materna. Estudos desenvolvidos com base na Fonologia Prosódica e na Fonologia Entoacional sobre o português falado na Guiné-Bissau (PGB) apontam que, quanto à densidade tonal, ele afasta-se da variedade lisboeta (SEP) e aproxima-se de variedades ultramarinas, como o português brasileiro. Entretanto, novos dados do PGB mostram maior similaridade ao SEP quanto ao contorno entoacional: ambos apresentam platôs melódicos, porém SEP apresenta um platô contínuo, enquanto PGB, uma composição de pequenos platôs. Neste trabalho, apresentamos um teste de percepção piloto, verificando se PGB e SEP são de fato distintos, embora o SEP seja a norma-alvo. A tarefa de discriminação AX categorial foi realizada por brasileiros e portugueses, em que apenas o contorno entoacional de sentenças declarativas neutras do SEP e do PGB era apresentado. Os resultados mostram que brasileiros percebem mais a diferença entre SEP e PGB quando ouvem primeiro a entoação do SEP, indicando que um contorno seria melhor distinguido pela alternância entre tons do que pela quantidade de acentos tonais. Assim, o tipo de contorno entoacional parece uma pista mais robusta do que densidade tonal na diferenciação de variedades/línguas.
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