A sintaxe em gramáticas filosóficas portuguesas: o caso do complemento
DOI:
https://doi.org/10.21165/el.v52i3.3506Resumo
A noção de complemento como aquilo que completa o sentido do verbo do qual depende sintaticamente é anterior à emergência deste termo na tradição da gramática portuguesa, em 1799, tanto na Arte da grammatica portugueza, de Figueredo, quanto nos Rudimentos da grammatica portugueza, de Fonseca. De fato, a regência, herdada da gramática latina, desempenha essa função desde as primeiras gramáticas portuguesas. O objetivo é observar não apenas as aproximações e os distanciamentos entre as abordagens desses três autores em comparação com as concepções do gramático iluminista francês Nicolas Beauzée, em sua Grammaire générale (1767), mas também o impacto das ideias desse gramático francês sobre as gramáticas filosóficas portuguesas do século XIX. Assim sendo, pela perspectiva teórico-metodológica da História das ideias linguísticas (Auroux, 2007; Colombat, Fournier, Puech, 2017), buscamos as causas da distinção entre as abordagens e os efeitos que delas resultam, por meio da investigação do horizonte de retrospecção dos autores portugueses e do modo como a noção de complemento é afetada pela temporalidade. O estudo mostra, em primeiro lugar, um intervalo de mais de cinquenta anos em relação ao aparecimento do termo complemento na tradição da gramática francesa, atestado em 1747, na obra Les vrais principes de la grammaire françoise, de Girard. Além disso, considerando que Beauzée define o complemento como aquilo que se junta a uma palavra para mudar ou completar a sua significação, o estudo mostra que Barbosa aproveita as ideias de Beauzée tanto ao conceber o complemento como aquilo que completa ou muda o sentido do termo antecedente como ao apresentar a terminologia da regência coexistindo com aquela do complemento. Quanto a Souza (1804) e a Melo (1818), embora o concebam como uma palavra ou expressão complementar do termo antecedente, o complemento está vinculado ao termo dependência e não ao termo regência, como em Barbosa.
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